quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

tenho vizinhos barulhentos.
não o suficiente;
ainda ouço meus pensamentos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Enquanto isso na locadora.

1: - Boa tarde.

2: - Bo... a tarde.

3: - A gente veio pegar um filme.

2: - Ah. Que ótimo... Algum especial?

1: - Não. Tem algum bom pra indicar?

2: - Hmm. Já viram Closer?

1: - Nossa, já! Que filme foda. Tem algum parecido?

2: - Acho difícil. Só a vida.

3: - Hãm.

1: - Não entendi.

3: - Hãm.

2: - Né.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

coração gelado

ontem eu descongelei a geladeira,
só a geladeira.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Não deu tudo certo

Entrou rapidamente no carro e sem pensar...

- Emergência! Emergência!

Sentando no sofá de casa, acendeu um cigarro e respirou fundo. Na televisão, a notícia: 'jovem de 23 anos morre vítima de atropelamento e o motorista, que não foi identificado, foge do local do acidente'. Sem mesmo terminar o cigarro, acende outro num ato de nervosismo.

No fim de semana vai para o bar com um dos amigos, como de costume. Após várias cervejas e uma série de perguntas sobre o acontecido, não agüenta e desabafa:

- Ah, cara, ela disse que me amava.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Babaleia

- Disse que tomou tento.

- Eu acho que ela só tenta.

(...)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Indiferença

- É, faz uns dias já.

- E tu assim indiferente?

- As pessoas fazem escolhas. O que eu posso fazer?
Em vez de chorar por mais um, eu finjo que entendo e digo 'tá bom'.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Enquanto isso lá em casa...


nuvens no céu, chuva no domingo
meias nos pés, capuz na cabeça
benjamin na tomada, música no som

vizinho chegando, nove da noite
café na xícara, fumaça no ar
palavras no papel, dia sem noção

água no mar, areia nas dunas
aniversário do amigo, luz no poste
nomes iguais, saudade cortante

gato na sacada, caixa de areia
pingos nos is, traços nos ts
cigarros no cinzeiro, cedilhas nos cs

pé no chão, coração na mão

terça-feira, 18 de agosto de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

Ele e o amigo cachorro

“Como são as coisas, né Gerusa!” – ouviu de seu quarto, que estava com a porta entreaberta. Realmente, como são as coisas. Ele mesmo achava estranho não ter vontade de levantar de novo. Era um rapaz tão cheio de vida, tão alegre – como diz sua mãe. Sorriu. Mas era verdade: sempre acordava cedo para poder aproveitar o dia, tirar fotos, olhar o céu, se divertir com as várias formas das nuvens e até com as pessoas que parecem sempre tão ocupadas e com pressa. Mas não hoje. Nem há três dias. Estava sem vontade alguma de sair da cama. Também! Que frio, viu?!. E o pior é que era um dia daqueles que tem sol e vento. Seu clima preferido. Muitas vezes ele pegava seu cobertor de infância, vestia uma jaqueta, colocava a toca, suas pantufas de avô e ia deitar no quintal para pegar sol. Mas faz três dias que nem o que gosta de fazer parece divertido.

Enquanto fazia café refletiu sobre o tédio de sua vida. Dormir, acordar, comer, tomar banho, olhar as pessoas pela janela, não conversar com nenhuma delas. E o que mais? Ah, sim, ouvir as conversas de sua mãe com as amigas. Aqueles, sim, eram papos construtivos. Quando falavam do filho da Gerusa então... Gargalhou ironicamente e ligou o som bem alto. Sua mãe havia saído. Los Hermanos. Tem mania de se achar perdedor. Vai saber.

Já na padaria, onde foi comprar cigarros e chocolate, as atendentes olhavam meio torto pra ele. Talvez porque tinha esquecido de pentear o cabelo ou porque estava usando calça de moletom furada no joelho, uma jaqueta velha e meias com chinelo de dedo. Apenas apanhou o que queria mais umas gomas de mascar de sabor ácido e saiu sem dar muita bola. Bola de chiclete... No nariz.

Passando pela praça, notou um cachorro dormindo na grama. Devia estar com frio. E precisando de um abraço. Somos dois, amigo. Sorriu tristemente com o canto da boca e lembrou “como são as coisas”. Colocou o cigarro de leve entre os lábios e acendeu o filtro. Suspirou.

Colocou a sacola em cima do balcão da cozinha e pôs o leite pra ferver. Chocolate quente. Chocolate quente e rosquinhas de polvilho. O som ainda estava ligado e tocava: “Olha só, que cara estranho que chegou...”. Só balançou a cabeça conformado com a coincidência de sempre. Achava engraçado como às vezes parece que é ele quem escreve algumas músicas. Mesmo sem pegar uma caneta na mão há semanas, nem pra anotar um recado ou telefone. Afinal, ninguém liga. E se a mãe está em casa corre para o telefone como se fosse o papa ou até o tal deus. Patética.

Foi para a varanda e acendeu um cigarro, finalmente. O leite tinha derramado no fogão e queria ter nicotina no corpo antes de sua mãe chegar e dizer que nem para esquentar leite ele serve. Ela já lhe disse várias vezes que não precisava deixar ferver por completo porque ele iria deixar esfriar na mesa da sala mesmo. O que ele podia fazer? Achava divertido brincar de ter poder. Deixar o leite achar que vai ganhar e depois desligar o fogo bem rápido para poder rir da cara dele. Besteira de quem tem vinte anos e nada para fazer. Acontece.

Olhou para o relógio. 17:53. Sábado e ninguém o convidou para jogar baralho. Ou beber vinho. Ou assistir filme. Talvez os amigos estejam cada um em sua casa. Com suas namoradas. Todos tinham uma dessas. Ele não. Não se achava interessante. Imagina, que garota ia querer brincar de escorregar no assoalho de meia e cair de bunda no chão? Todas elas querem ir para uma danceteria no sábado à noite. E às 18h começar a se arrumar, colocar um decote, saia justa, cabelo pranchado, maquiagem, salto. Mas um dia ele gostou de uma menina. E até se beijaram, saíram uns dias. Só que ela não gostou do bafo de cigarro. Pedia para ele colocar uma bala na boca cada vez que fosse beijá-la. Quem no mundo pára de fumar por causa de uma guria dessas? Ele tinha era mais vontade de fumar sempre que estavam juntos. Só para irritar. E soltava a fumaça na cara dela, cada vez, pedindo desculpa e dizendo que era o vento. Bala, que mané bala! E nem era bonita.

Sentado na frente do computador com nenhum programa aberto ele pensou que poderia começar a escrever. Mas não tinha vontade – fazia tempo que não tinha vontade. E sobre o que? Pois é. Abriu o jogo de paciência e ficou lá, por 7 minutos. Acendeu um cigarro e tomou um gole de chocolate, agora, frio. Queria que sua mãe não estivesse certa de vez em quando.

Tomou um banho, colocou uma roupa bem quente e saiu. Por que não? Foi na casa do amigo mais próximo, que tinha recém passado o café, com esperança de que alguém aparecesse. Ele, que também não namora, gostava de esperar os amigos. Mesmo quando não os convidava. O problema é que na maioria das vezes eles não apareciam. Imagina quanto café.

Já era 00:42, tinha que ir. Deu um abraço demorado no amigo e partiu na noite fria. Passou na conveniência do posto de gasolina na volta pra casa. Ele sempre deixa o amigo fumar seus cigarros. Mas tudo bem, ele já gasta bastante com café. Riu. Pegou um salgadinho, um refrigerante e uma revista de palavras cruzadas. Fazia tempo que ele não completava uma dessas. Acendeu um cigarro e sentou no banco da praça.

Começou a completar os quadradinhos da revista. F-E-L-I-C-I-D-A-D-E. Suspirou. Fechou a revista e pôs no chão. Deitou no banco e lembrou como eram bons os dias de praia. Deitar na areia, contar estrelas. Como agora. Só que agora tem uma coisa diferente. Ele não está sozinho. É, o cachorro. E foi assim, até amanhecer. Ele e o amigo cachorro. Dois moradores de praça.



Escrito em 05.08.2007 e hoje, levemente editado.