terça-feira, 26 de maio de 2009

"I hate you so bad when I love you".

- Eu te odeio.

- Eu também te odeio.

Por essa, ela não esperava. A verdade é que ela ainda o amava. Era um amor tão sincero e tão cheio que não cabia nela, transbordava. Eu também te odeio. Como assim? Intrigou-se. Será que ele tá falando a verdade assim como eu não tô? Preferiu não perguntar.

- Ainda bem.

- Eu acho.

- É mais fácil assim.

- Concordo.

Pô! Sentiu um mal-estar, um calor vinha da barriga, talvez do estômago, se misturou com o peito, passou pra cabeça. Ficou tonta. Tentou disfarçar, mas o choro veio como tempestade.

- Desculpa, é a TPM, sabe?

- Imagina, fica à vontade.

Nossa, nunca pensei! Enquanto chorava, o observava tentando encontrar sombras de dúvidas. Mas ele estava lá, parado, tomando seu café como se nada estivesse acontecendo. Não se mostrava perturbado nem aliviado.

- Quer ir lá em casa pegar tuas coisas?

Tão rápido? Não estava preparada. Achava que ele iria se declarar, que iria pedir perdão por tudo que já fez, que iria beijá-la como se, naquele momento, tivesse descoberto que ela era realmente o amor de sua vida. Mas não, só movia o braço direito pra levar a caneca à boca.

- Sim, pode ser.

- Então vamos que eu preciso trabalhar.

Pagaram os cafés separadamente dessa vez. A padaria não era longe do apartamento. Foram caminhando pela rua. O dia estava nublado, assim como seu coração. Ela não conseguia acreditar que estava mesmo acontecendo. O que era pra ser um recomeço estava perto do fim, muito perto, há um lance de escadas. Abriu a porta.

- Entra aí, pega lá tuas coisas. Vou tomar mais um café.

Fez o movimento afirmativo com a cabeça e foi. Deu uma parada no banheiro primeiro, precisava de um minuto pra pensar. Não é possível! Olhou-se no espelho: seus olhos já estavam vermelhos em volta, do choro. Preciso pegar minhas coisas e sair daqui! Escova dental, xampu, absorventes, escova de cabelo.

DVDs, CDs, fotografias. O cinzeiro vermelho, a capa dos óculos. O carregador do celular, o isqueiro roxo, o romance policial. O All Star jogado no canto do sofá, as pantufas de abelha.

Os brincos em cima da cômoda, as roupas dentro da gaveta. Jogava tudo dentro da mala como se estivesse atrasada ou coisa qualquer. O que mais, o que mais? Foi pra cozinha.

- Posso levar minha caneca?

- É tua, não?

Puta merda, grosso! Passou por ele, sentiu seu cheiro. Aquele cheiro só dele misturado com o perfume tão bom. Abriu o armário, pegou a caneca. Aproveitou e alcançou o copo de bolinhas vermelhas. O que mais?

Puxou-a bruscamente e a abraçou. Levou um susto, mas parou, olhou em seus olhos e sentiu-se segura, sorriu. Beijou-a lentamente.

- Põe a mala no chão pra não quebrar nada.

Pegou-a no colo e a levou pro quarto.


Deitada em seu peito, acariciando seu braço, confessou.

- Sabe, eu tava mentindo antes. Eu ainda te amo.

- É? Eu não.

3 comentários:

Marcelo Labes disse...

Dèja vu.

costadessouza disse...

Blog de quem vive intensamente.
Texto intenso.
adicionado!

Fábio Ricardo disse...

fugiu do clichê por pouco, por muito pouco. mas são detalhes como os pensamentos em italico, o copo de bolinhas vermelhas, a forma de descrever as coisas a serem pegas, que não acabam mais, que mostram q eh tu aí que tá escrevendo, e iso eh muito bom.
pelo menos pra quem te conhece.