- Eu não te amo mais.
Sentiu uma forte pontada no estômago. Sem deixar de fixá-la nos olhos, apalpou a mesa à procura dos cigarros. Em, aparentemente, um segundo, já estava soltando a fumaça. Sem deixar de fixá-la nos olhos, uma lágrima solitária correu em desespero para a maçã de seu rosto. Olhou pra garçonete, que naquele momento passava perto da mesa observando se lhe faltava algo.
- Me vê mais um café.
Tremendo como nunca havia tremido na vida, deu uma longa tragada no cigarro como se estivesse buscando nele o ar que lhe faltava nos pulmões. Num instante de raiva, soltou a fumaça naquele rosto perfeito, lindo como aquele nascer do sol no verão do ano passado no Rio de Janeiro. Viagem bonita. Acabou de ir pra lista de lembranças a serem esquecidas.
- Tu não vai falar nada?
Pensou em xingá-la, pensou em dizer que a amava mais do que qualquer pessoa que já havia cruzado seu caminho, pensou que nunca existirá uma pessoa tão cruel ao ponto de convidar alguém para um café e dizer que não o ama mais. Quis beijá-la loucamente.
- Tá tudo bem?
Espero que essa tenha sido uma pergunta retórica. Olhou no fundo de seus olhos procurando uma pontinha sequer de dúvida. Pensou em convencê-la de que aquilo era errado, de que era o maior erro de sua vida. Mas não o fez. Estava paralisado, queria lhe dizer todas aquelas coisas bonitas que nunca teve coragem. Como sempre, ela o intimidava. Até na hora do adeus era fria.
- Desde quando?
- Desde quando o que?
- Pô...
- Ah... Desde semana passada.
Semana passada? Como assim “semana passada”? Amor tem prazo de validade? O café estava frio. Vai ver foi ela... Riu.
- O que foi?
Gargalhou. Teve uma crise de riso. Todos ao redor o olhavam como se fosse louco. Ria, ria e ria. Estava ficando louco mesmo. Ria, ria, ria.
- Pára.
- HAHAHAHAHAHA!
- Pára!
- AHAHAHAHAHAHAHA!
- Eu vou embora.
- Vai! Vai que é o que tu sabe fazer melhor!
Levantou, puxou-a do banco fazendo-a levantar também e a beijou. Beijou-a sabendo que aquele seria o último beijo deles. Enquanto a abraçava, acariciando suas costas, sentiu que se deixou levar pelo abraço e parou de resistir. Era ela que o estava beijando agora.
- Pára tudo.
- O que foi?
Olhou pra ela e sorriu.
- Tá de brincadeira?
- Como assim?
- “Eu não te amo mais”? Conta outra!
Olhou pra ele e sorriu.
- É. Eu pensei que fosse conseguir, mas tu sabe que não sou uma boa atriz.
Sorriu e a beijou, sabendo que aquele não seria o último beijo deles.
No dia seguinte, lá estava ele, sorrindo: mesma lanchonete, mesmo horário, mesmo banco da mesma mesa, segunda caneca de café. Ela, não. Ela estava atrasada. Uma hora e treze minutos. Deve ter perdido o ônibus. Duas horas e 17 minutos. Duas horas e 19 minutos! Sentiu uma forte pontada no estômago. E então percebeu, depois de duas horas e 23 minutos, que ela era uma ótima atriz.
4 comentários:
ouch!
que final mais doído!
qdo eu pensei q o texto era muito bom, na hora q eles se entenderam, descobri que podia ainda ser muito melhor, com um final desses.
Mas, por motivos pessoais, a frase que eu mais gostei (não?) foi:
- Vai! Vai que é o que tu sabe fazer melhor!
ahahaha. Pois é. E ela vai mesmo! Danadinha. hahah.
Então, ainda bem que tu gostou. Esse era aquele que tava horrível. O final veio, assim, como quem não quer nada. (=
*=
putacaralho!!! (porque meio que não há mais nada pra dizer). :)
os finais que vêm assim, como quemnão quer nada, normalmente são os melhores.
danadinha.
hahahaa
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